segunda-feira, 15 de julho de 2013

A capacidade reprodutiva da floresta está ligada à presença dos pássaros


Cientistas brasileiros comprovam uma lógica catastrófica: o desaparecimento de aves maiores da Mata Atlântica leva à diminuição no número, na densidade e na resistência das árvores


Darwin, admirado com as cores e o sabor das frutas tropicais, escreveu que as frutas não passam de iscas sofisticadas, aperfeiçoadas ao longo de milhares de anos. Sua função é atrair pássaros, que, ao ingerir os frutos e evacuar as sementes, facilitam a dispersão das plantas ao redor do planeta. O que foi descoberto agora é um novo mecanismo que entrelaça o destino das árvores ao dos pássaros. Na Tanzânia, as planícies do Serengueti são cortadas por rios em cujas margens estão as florestas. Nos últimos 60 anos, 80% destas florestas foram perdidas.
A morte delas vem sendo estudada cuidadosamente. Entre 1966 e 2006, a população de pássaros, a densidade de árvores, a quantidade de sementes produzida, sua taxa de germinação e a sobrevivência dos brotos foram monitoradas em 18 blocos de florestas, em diferentes estágios de degradação. O objetivo era compreender por que as florestas não regeneravam, mesmo quando protegidas. Os cientistas observaram que, quando a copa da floresta fica menos densa, o número de espécies de pássaros diminui bruscamente.
As 33 espécies que habitam as matas densas se reduzem a 18 nas florestas ralas. Grande parte dessa queda se deve ao desaparecimento dos pássaros que se alimentam de frutos. Ao comparar as sementes coletadas no solo de florestas densas e ralas, os cientistas descobriram que nas florestas densas 70% das sementes estavam sem a parte da fruta que encobre a semente (o pericarpo), o que indica que essas sementes haviam sido ingeridas por pássaros. Nas florestas ralas, por causa da ausência de pássaros, somente 3% das sementes estavam sem o pericarpo.
A grande maioria ainda estava no interior dos frutos. Com o objetivo de avaliar sua taxa de germinação e "pegamento" (capacidade de gerar uma plana de mais de 5 cm), as sementes coletadas em florestas em diferentes estágios de degradação foram semeadas. O que foi observado é que as sementes ainda recobertas pela parte externa da fruta não germinaram. As "descascadas" pela ação dos pássaros germinavam facilmente. Quando foram investigar o que impedia a germinação de sementes envolvidas por pericarpo, os ecologistas descobriram que, ao cair no solo, as sementes com pericarpo eram rapidamente atacadas pelos besouros, o que resultava na sua morte. Sementes sem pericarpo ou com pericarpo, mas coletadas antes do ataque dos besouros, tinham alta taxa de germinação.
A conclusão é de que os pássaros, ao ingerir a fruta e se alimentar do pericarpo, tornam as sementes resistentes ao ataque dos besouros, o que garante sua sobrevivência. Quando se inicia a degradação da floresta e a quantidade de pássaros diminui, grande parte das sementes cai no solo antes de serem comidas pelos pássaros. Essas sementes são presas fáceis para os besouros, que impedem o aparecimento de uma nova árvore. O resultado é que a redução da quantidade de pássaros dispara um ciclo vicioso em que menos sementes viáveis são produzidas, o que resulta em uma menor reposição de árvores na floresta. A conclusão é que a própria capacidade reprodutiva da floresta está intrinsecamente ligada à presença dos pássaros. Se os pássaros já dependiam das florestas, agora sabemos que as florestas dependem dos pássaros.
Fonte: Painel Florestal.

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