Paragominas levou apenas dois anos para entrar na lista negra do Ibama como campeã de desmatamento e sair dela como modelo de manejo sustentável do solo. A cidade no Nordeste do Pará derrubava a floresta a uma velocidade de 300 quilômetros quadrados por ano em 2008. No ano passado, desmatou apenas 1,5 quilômetro quadrado. Resultado: recuperou o financiamento bancário para a agricultura e reabriu os mercados para a sua produção agrícola e pecuária.
"A situação não é um paraíso, mas pelo menos reencontramos o caminho de volta à normalidade", diz Mauro Lúcio de Castro Costa, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas.
Costa lidera um grupo de 13 produtores que adotaram práticas sustentáveis. Na agricultura foi implantado um modelo de baixo carbono e plantio direto em que a terra não passa por nenhum processo de preparação antes da semeadura e, assim, preserva seus nutrientes. Foi desenvolvido um projeto de pecuária verde, de intensificação da área produtiva, com cinco a seis cabeças de gado por hectare contra a média nacional de 0,5 por hectare. As áreas de preservação ambiental não são mais utilizadas para a produção, mas as áreas de produção permanente (APPs) vêm sendo enriquecidas com o plantio também sustentável de espécies nativas, como açaí, que servem para completar a renda dos agricultores.
Paragominas fica a 300 quilômetros de Belém. Tem cerca de 100 mil habitantes. Só o campo demitiu três mil trabalhadores rurais no pior ano da crise municipal. Os negócios no campo pararam.
A região era alvo constante dos fiscais do Ibama e da Polícia Federal em operações com nomes como Arco de Fogo e Rastro Negro. Empresas brasileiras, que antes do embargo compravam os produtos da agricultura e pecuária do município, foram premiadas quando suspenderam as compras. Os americanos fecharam os portos à importação de produtos do município. A inclusão de Paragominas na lista vermelha do Ministério do Meio Ambiente foi o equivalente a ter o nome sujo no Serasa para uma pessoa física. Os bancos não liberavam mais crédito rural. Todo apoio financeiro do governo federal foi cortado.
A saída começou a ser articulada com um pacto contra o desmatamento firmado por 51 entidades. Um dos objetivos era reduzir a derrubada de florestas para menos de 40 quilômetros quadrados por ano contendo o trabalho das madeireiras instaladas na região. A iniciativa permitiu incluir 80% da área do município no Cadastro Ambiental Rural. A aquisição de imagem atualizada de satélite ajudou a demarcar a reserva e o nível de degradação de cada propriedade e serviu à elaboração de um diagnóstico ambiental da cidade.
O projeto contemplou também o monitoramento mensal pela ONG Imazon, para detectar processos de desmatamento, e uma parceria com o The Nature Conservancy (TNC). Com a ajuda do professor Ricardo Rodrigues Ribeiro, especialista em recuperação de áreas degradadas, foi elaborado um projeto de quantificação do passivo ambiental de cada propriedade e traçado um plano de recuperação. O trabalho envolve a recuperação de APPs e reservas legais com regeneração natural.
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