quarta-feira, 30 de maio de 2012

Expansão da soja aumenta déficit de feijão no Brasil


Preço mais atraente da oleaginosa tem feito com que agricultores do Paraná, maior produtor nacional de feijão, abram mão do plantio do grão



Ingrediente preferido dos brasileiros, o feijão está em falta no país. A previsão é de que 600 mil toneladas do grão deixem de ser colhidas neste ano, reflexo da perda de área no campo para a soja. A consequência imediata da redução da colheita é o aumento da importação e o reajuste dos preços para o consumidor. A reversão do quadro na próxima safra vai depender da concorrência com o preço da oleaginosa e das condições climáticas.
No ano passado, o Brasil trouxe de fora mais de 200 mil toneladas do grão. Relatório divulgado no início do mês pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima em 150 mil toneladas as importações do feijão neste ano.
No entanto, a Correpar, corretora paranaense especializada neste segmento, aposta num déficit de 600 mil toneladas de feijão nas três safras deste ano. Para Marcelo Eduardo Lüders, analista da empresa, o aperto da oferta tende a se agravar no segundo semestre. “As causas principais são o clima e a redução da área plantada, provocada pela concorrência com a soja”, considera.
Maior produtor nacional do grão, o Paraná deve ter a sua safra de feijão reduzida consideravelmente. O engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab) Carlos Alberto Salvador prefere não arriscar uma previsão, já que ainda falta colher 49% da safrinha. Porém, ele acredita que houve redução de 14% na produção no Paraná. “O produtor decide em torno daquilo que ele vai receber, então optou pela soja. Além disso, as condições climáticas não ajudaram”, diz. Das 3,8 milhões de toneladas plantadas no Brasil nas três safras de 2010/2011, 22% saíram do Paraná.
Apesar de haver 40 tipos diferentes de feijão, os mais consumidos são o preto e o carioca. Para o feijão preto, a alternativa encontrada pelo mercado tem sido importar o grão da China. A Argentina também é produtora, porém, não tem safra nesta época do ano. Já para o feijão carioca, a única solução é a substituição pelo tipo caupi, que tem aspecto semelhante, pois não há países produtores no mercado internacional. O grão é plantado apenas no Mato Grosso e na Região Nordeste do país.
China
A região Centro-Sul tem as maiores áreas de feijão preto do Paraná. A concorrência com os chineses chamou a atenção dos produtores de Prudentópolis, considerada a capital brasileira do feijão preto. “Eu sabia que os chineses plantavam, mas não que era tanto”, comenta o agricultor Darci Antonio, cerealista e dono de 36,3 hectares com o grão. Ele vai começar a colheita dentro de duas semanas, mas prevê uma quebra de 10% devido à geada fora de época, no início de maio.
O produtor Eder Renato Rickli também não acreditava na potência dos chineses. “Só falta trazer feijão da China para fazer a super feijoada da festa do feijão”, brinca, lembrando que em 12 de agosto acontece o tradicional evento para comemorar a safra e o aniversário do município. Um alento é o câmbio. “Com o dólar a R$ 2 inviabiliza a importação de feijão”, considera Rickli.
Ele plantou 200 hectares de feijão preto e acredita que terá uma quebra de 30% na produção por conta da geada. Rickli diz que, ano a ano, vem plantando menos feijão para aumentar a área de soja, pois o preço está mais atrativo. A saca de 60 quilos está cotada na casa dos R$ 31. “Além disso, a soja traz menos riscos que o feijão”, acrescenta.
Baixa produção resulta em alta nos preços
Os produtores que apostaram no feijão conseguiram bons preços. A semana passada encerrou com preços entre R$ 105 e R$ 110 para a saca de 60 quilos do feijão preto e entre R$ 180 e R$ 190 para o mesmo volume do feijão carioca. O valor é bastante superior ao mínimo estipulado pelo governo federal, que é de R$ 72.
A qualidade da produção, no entanto, caiu. “Esperava colher uns 2,4 mil quilos por hectare, mas estou praticamente encerrando a colheita e rendeu uns 2,2 mil quilos por hectare”, aponta o produtor Jesse Ricardo Gomes Prestes, que plantou 230 hectares de feijão carioca na região de Castro.
Com os preços em alta, a expectativa, conforme Everson Orlando Lugarezi, gerente da unidade de feijão da cooperativa Castrolanda, em Castro, nos Campos Gerais, é que a área plantada aumente na próxima safra. Prestes, que não é cooperado, acredita que a soja vai ditar o mercado. “Neste ano eu reduzi pela metade a área do feijão por causa da soja. Na safra que vem, tudo vai depender do preço da soja. Se estiver bom eu vou continuar diminuindo a área do feijão”, adianta. Conforme o analista Marcelo Lüders, para que o feijão carioca seja viável é importante que a saca custe pelo menos três vezes o valor da soja.
Quem prefere plantar o feijão preto, como o produtor Darci Antônio, de Prudentópolis, não reclama do preço, mas uma saída para aumentar a renda é o feijão vermelho. “Estão pagando uns R$ 180 por saca, mas o consumo ainda é muito baixo, então o predomínio na lavoura ainda é do feijão preto”, comenta.
Reflexos
Com a redução da oferta de feijão, o preço ao consumidor está alto. No disque economia – serviço oferecido pela prefeitura de Curitiba – o quilo mais barato do feijão carioca saía por R$ 4,88 e o do feijão preto por R$ 3,21.
Se a incerteza predominar no mercado, os pequenos produtores de Prudentópolis vão sentir o impacto na comercialização das sacas. Conforme o técnico agrícola da Secretaria Municipal de Agricultura Ari Borsuk que acompanha os pequenos produtores, há cerca de oito mil famílias que dependem do cultivo do feijão preto no município. “Se o preço cair mais, o trabalho vai ficar ainda mais custoso porque eles não usam maquinário, precisam arrendar a terra ou pagar os colhedores”, aponta. “Muitos pequenos já deixaram de plantar feijão e migraram para o leite ou para as frutas”, acrescenta.

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